terça-feira, 7 de setembro de 2010

"(...)A minha tv não se conteve, atrevida, passou a ter vida olhando pra mim. Assistindo a todos os meus segredos, minhas parcerias, dúvidas, medos, minha tv não obedece. Não quer mais passar novela, sonha um dia em ser janela e não quer mais ficar no ar. Não quer papo com a antena nem saber se vale a pena ver de novo tudo que já vi.
A minha TV não se esquece nem do preço, nem da prece, que faço pra mesma funcionar. Me disse que se rende a internet, em suma não se submete a nada pra me informar, não quis mais saber de festa, não pensou em ser honesta funcionando quando precisei. A notícia que esperava consegui na madrugada num site, flick, blog, fotolog que acessei.
A minha TV tá louca, me mandou calar a boca e não tirar a bunda do sofá.
Mas eu sou facinho de marré-de-sí, se a maré subir eu vou me levantar. Não quero saber se é a cabo nem se minha assinatura vai mudar tudo que aprendi, triste o fim do seriado, um bocado magoado sem saber o que será de mim.
Ela não SAP quem eu sou, ela não fala a minha língua. (She doesn't speak my tongue)
"Pô tô cansado de toda essa merda que eles mostram na televisão todo dia mano, não aguento mais, é foda!"
(...)
Enquanto pessoas perguntam - por que? , outras pessoas perguntam - por que não?
Até porque não acredito no que é dito, no que é visto. Acesso é poder e o poder é a informação. Qualquer palavra satisfaz. A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz. O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio.
Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia.
O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa.
A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento, na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.
Falou e disse...Num passado remoto perdi meu controle.
Era vida em preto e branco, quase nunca colorida reprisando coisas que não fiz, finalmente se acabando feito longa, feito curta que termina com final feliz...Ela não SAP quem eu sou, ela não fala a minha língua...(Quem te viu, pay-per-view.) Eu não sei se pay-per-view ou se quem viu tudo fui eu. A minha tv tá louca.(...)"


- Xanéu nº 5 - O Teatro Mágico - Fernando Anitelli

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